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sábado, 5 de junho de 2010

Literatura de Cordel tem espaço no blog


Visando difundir e ajudar na preservação dessa nobre arte, o blog apartir de hoje, abre espaço para divulgação da literatura de cordel. A idéia é aproveitar o espaço da internet para fazer esta arte surgida em meados do século XV chegar ao público jovem fissurado pela net. Vamos abrir espaço para cordelistas interessados em divulgar semanalmente o seu trabalho. Se voce é cordelista e deseja ver seu trabalho sendo divulgado aqui no blog, envie seu material digitalizado para o e-mail jsvi@hotmail.com.br. Será um prazer receber e divulgar esses trabalhos na íntegra. Prá começar essa série, apresentamos o cordel de autoria do poeta Antonio Vieira. Uma boa leitura.


O MURRO QUE ZÉ MARCHANTE DEU NO BÊBADO QUE LAMBUZAVA A ÁGUA DO RIO.

Segundo Luiz Gonzaga E isso ele comprovou Todo lugar tem que ter O seu próprio tocador De sanfona ou de viola Não importa se ele sola Importante é dar o show

Em cada lugar tem um Mas não é só tocador Jogador, doido, valente Mentiroso, falador Personalidades raras Pra tudo quanto é tara Tem um admirador

Uns se tornam conhecidos Até da cidade inteira Por cometer absurdos Promover muitas asneiras Contudo existem outros Conhecidos muito pouco Sua fama é mais maneira

O marchante foi um desses Que a fama de valentão Quase que se restringiu A seu próprio quarteirão Promoveu muito arruaça Todo fruto da cachaça E da má educação

Até que o marchante Descendente de caboclo Bebia pouca cachaça Ou seja, bebia pouco Toda sua valentia Era pura fantasia Para aparecer pros outros

Aliás isso é comum Vai da personalidade Tem pessoas que precisam Conquistar notoriedade Sair do anonimato Atingir o estrelato Atender a vaidade

Esse detalhe é tão claro Que o povo já dizia A quem queria aparecer E tudo pra isso fazia Que fizesse um esforço Amarrasse no pescoço Uma grande melancia

E o intelectual Quando via alguém estar Necessitando aparecer Independente do lugar Dizia que o amigo Estava acometido Da doença N.A.

O marchante era dos tais Que não perdia ocasião De fazer uma farromba Aprontar uma confusão No lugar onde ele estava Normalmente ele brigava Se metia a valentão

Qualquer que fosse o assunto Ele logo se entrosava Quando dava opinião Normalmente exagerava Sobretudo se o caso Lhe dava status de brabo Aí ele se espalhava

A começar pela faca Que ele chamava de "laiga" Faca nenhuma no mundo Com ela não tinha vaga Podia ser um porquinho Ia até o gorgominho O bicho sequer chiava

Se fosse gente então Aí perdia a estribeira Somente em ver a "laiga" Nego dava tremedeira Fazia muita careta Se metia em qualquer greta Chegava a ter caganeira

Pra tirá-la da cintura Cumpria um ritual Olhava para os lados O ambiente ideal Depois bem devagarinho Puxava-a com carinho Um cuidado sem igual

Quando ele estava agitado Passava a "laiga" no chão Chegava sair faisca Fazia até um clarão Ninguém ousava ficar Por perto ou perguntar O porquê da alteração

Mas apesar da valentia Das brigas que ele travou A maioria perdeu A não ser as que contou Quando fazia viagem Só contava as vantagens E nunca que apanhou

Ele tinha um costume Que a maioria aderiu No Domingo de manhã Tomava o banho no rio Para tirar a ressaca Porque sábado a cachaça Foi pra mais de um barril

Na manhã de um Domingo E isso não foi bem cedo Ele chegou no balneário E lá encontrou um "bebo" Que uma vez dentro d'água Tomava banho e sujava Fazia um panavoeiro

O marchante não gostou Do que tinha visto ali Falou então para o "bebo" "Eu vou tomar banho aí Não "bunze" a água, não Vista logo seu calção E vá embora daqui

Mas todo "bebo" é teimoso Cheio de muita picuinha Respondeu: "o rio não é seu, O rio é da marinha Fico até quando quiser Você não é minha mulher E nem rapariga minha

O marchante irritou-se Mas não tirou da bainha A "laiga" tinha trazido Mas viu que não lhe convinha Limitou-se a repetir "Se foi isso que ouvi O rio é da Marinha".

O "bebo" ainda ficou Muito tempo se banhando As águas do Subaé Ele estava lambuzando Mergulhava e pulava Do fundo do rio soltava Sujeira que ia boiando

E depois de muito tempo Ele resolveu sair Mas ao botar o pé fora Foi obrigado a cair O marchante deu um murro Ele chegou dar um urro Fora duro ao punir

Aí então o Faustino Embaixo do arvoredo Levantou-se de um salto Para defender o "bebo" "Você é muito covarde Por ter tido a coragem De bater num homem "bebo!"

Faustino estava ali Tomando conta do "bebo" No caso de se afogar Ele lhe dava arreglo Era um parente seu Quando o marchante bateu Reagiu mesmo com medo

Faustino já conhecia Sua fama de valente E por isso não queria Bater com ele de frente Só tomou essa atitude Zelando pela saúde Protegendo o parente

O marchante nessa hora Pegou no cabo da faca Pensando que o Faustino Vinha de lá com a taca "Nele eu bati por tá "bebo", Mas em você, seu "pelego" Vou bater por pura raça!"

Enquanto dizia isso Puxou de vez a peixeira Faustino ao ver aquilo Abriu em louca carreira Saiu levando no peito O assa-peixe do eito Que tinha no beira rio

Segundo o próprio marchante Que contou essa jornada Faustino chegou abrir Uma extensa picada Mas parecia um trator Fazendo a todo vapor A pista de uma estrada

Aquele que tomou banho No tempo em que o Subaé Tinha Águas cristalinas O leito não dava pé Não esqueceu da beleza Invenção da natureza Obra de Deus, ele é

Vendo o rio quase morto Insalubre e sem trato Entregue ao abandono Isso acontece de fato Responsáveis são aqueles Administradores fracos


FIM

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