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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

'Ária' dá ar rarefeito ao canto do crooner Djavan


Primeiro disco de Djavan como intérprete, Ária dá ar rarefeito ao canto habilidoso do artista, que se exercita como crooner com a maturidade que ainda não pautava sua voz nos anos 70, década em que Djavan gravou temas alheios para trilhas sonoras de novelas da TV Globo e cumpriu expediente noturno em boates do Rio de Janeiro (RJ) enquanto procurava sedimentar sua obra autoral no mercado fonográfico. Produzido e arranjado pelo próprio Djavan, Ária transita intencionalmente na contramão estilística dos bissextos registros emotivos em que Djavan se aventurou como intérprete quando já era compositor de forte personalidade autoral - notadamente Sorri (Charles Chaplin em versão de Braguinha) e Correnteza (Tom Jobim e Luiz Bonfá), grandes faixas de seu álbum Malásia (1996).


Já na primeira faixa de Ária, Disfarça e Chora (Cartola e Dalmo Castello), salta aos ouvidos a ambiência cool do álbum. Munido apenas de sua voz e de seu violão, Djavan repagina o samba em tons sofisticados com a mesma rala dose de emoção que pauta o abolerado samba-canção Sabes Mentir (Othon Russo), extraído do cancioneiro folhetinesco de Ângela Maria, símbolo da influência materna na escolha afetiva das 12 músicas que formam o repertório de Ária. Entre o banal (Palco, sem o clima festivo deste clássico de Gilberto Gil) e o sublime (Brigas Nunca Mais, o samba de Tom & Vinicius retocado no compasso de valsa), o crooner Djavan brilha ao fazer sua sincopada Apoteose ao Samba (Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira), ao voar em céu de brigadeiro pela reconhecível rota melódica de Fly me to the Moon (Bart Howard), ao desvendar a beleza ainda oculta em Luz e Mistério (Beto Guedes e Caetano Veloso) e ao apresentar ao Brasil um (belo) tema espanhol mais contemporâneo, La Noche (Enrique Heredia Carbonell e Juan Jose Suarez Escobar), pinçado do repertório da cantora Montse Cortez.


Em contrapartida, Djavan apenas bate ponto como crooner ao diluir a densidade da Valsa Brasileira (Chico Buarque e Edu Lobo) e ao fazer sua Oração ao Tempo (Caetano Veloso) com a percussão divina de Marcos Suzano. Entre mais acertos do que erros, o registro em scats de Treze de Dezembro (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) reitera o tom rarefeito de Ária, disco que confirma a rara habilidade de Djavan como crooner sem oferecer o que se espera do (esperado) primeiro disco de intérprete do compositor.

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